Evocação de Espíritos‏

25-11-2011 16:27

Sobre os aspectos do uso da evocação de Espíritos

 
 
Se o Espiritismo é, segundo seu fundador, a ciência que estuda a natureza, a origem, a destinação do espírito, bem como suas relações com o mundo corporal, a mediunidade é o instrumento de observação possível para este estudo.
Allan Kardec escreve na sua obra A Gênese:
“Até ao presente, o estudo do princípio espiritual, compreendido na Metafísica, foi puramente especulativo e teórico. No Espiritismo, é inteiramente experimental. Com o auxílio da faculdade mediúnica, mais desenvolvida presentemente e, sobretudo, generalizada e mais bem estudada, o homem se achou de posse de um novo instrumento de observação. A mediunidade foi, para o mundo espiritual, o que o telescópio foi para o mundo astral e o microscópio para o dos infinitamente pequenos…” 





 
Segundo o espiritismo, os Espíritos podem vir se comunicar conosco de duas maneiras: ou de forma espontânea, ou por evocação (chamamento).
Allan Kardec utilizava-se dessas formas, deixando claro que seria um erro abdicar de qualquer uma delas.
Ao longo de suas obras, percebemos a importância dada à evocação direta dos Espíritos, apesar de toda a pressão do clero romano que insistia em manter a hegemonia em relação ao mundo espiritual.
Visando esclarecer os indivíduos que desejavam manter contato sério com os Espíritos, Allan Kardec publica em 1861 "O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores". Como o título do livro já diz, é um tratado de mediunidade que serve de manual para os evocadores de Espíritos (os que os chamam) e para os médiuns (os que recebem a influência direta dos Espíritos).
Um capítulo  (XXV) é dedicado integralmente à Evocação, deixando claro, já no seu primeiro parágrafo como a evocação permite ter um maior controle das informações obtidas, bem como da identidade dos Espíritos que se comunicam:
"Pensam algumas pessoas que todos devem abster-se de evocar tal ou tal Espírito e ser preferível que se espere aquele que queira comunicar-se. Fundam-se em que, chamando determinado Espírito, não podemos ter a certeza de ser ele quem se apresente, ao passo que aquele que vem espontaneamente, de seu moto próprio, melhor prova a sua identidade, pois que manifesta assim o desejo que tem de se entreter conosco. Em nossa opinião, isso é um erro: primeiramente, porque há sempre em torno de nós Espíritos, as mais das vezes de condição inferior, que outra coisa não querem senão comunicar-se; em segundo lugar e mesmo por esta última razão, não chamar a nenhum em particular é abrir a porta a todos os que queiram entrar. Numa assembléia, não dar a palavra a ninguém é deixá-la livre a toda a gente e sabe-se o que daí resulta. A chamada direta de determinado Espírito constitui um laço entre ele e nós; chamamo-lo pelo nosso desejo e opomos assim uma espécie de barreira aos intrusos. Sem uma chamada direta, um Espírito nenhum motivo terá muitas vezes para vir confabular conosco, a menos que seja o nosso Espírito familiar."
Antes mesmo deste livro ser publicado, O Livro dos Espíritos, em sua primeira edição, já apontava as condições para evocar-se os Espíritos. Além do conhecimento profundo da teoria, a evocação exige seriedade, recolhimento, que tenha como objetivo o interesse geral e que seja feita em nome de Deus.
De forma didática podemos retirar das obras de Allan Kardec três aspectos do uso das evocações:
1º - científico (coleta de dados, elaboração de princípios);
2º - consolador (esclarece sobre para onde nossos "mortos" vão e qual seu estado);
3º - desobsessivo (usada na prevenção da obsessão e na terapia desobsessiva).


1. Aspecto científico 
Com a evocação de um Espírito poder-se-ia, no que diz respeito à construção científica, verificar informações recebidas de forma espontânea; verificar, através de perguntas bem dirigidas, a identidade do Espírito comunicante e a natureza de suas intenções; entrar em contato com Espíritos sábios que já desencarnaram; entender cada vez mais a realidade espiritual; etc.
Lemos na Revista Espírita de junho de 1868.
"Pode perguntar-se para que servem as evocações, quando nos dão a conhecer, até nos mínimos detalhes, esse mundo que nos espera a todos, ao sairmos deste? E a humanidade encarnada que conversa com a humanidade desencarnada; o prisioneiro que fala com o homem livre. Não, por certo elas para nada servem ao homem superficial que nisto só vê um divertimento; elas não lhe servem mais que a física e a química recreativas para a sua instrução. Mas para o filósofo, o observador sério, que pensa no amanhã da vida, é uma grande e salutar lição; é todo um mundo novo que se descobre; é a luz atirada sobre o futuro; é a destruição dos preconceitos seculares sobre a alma e a vida futura; é a sanção da solidariedade universal que liga todos os seres." 

2. Aspecto consolador
O aspecto consolador da evocação se dá no fato de se poder chamar nossos parentes e amigos que já desencarnaram e dialogar com eles.
É a certeza da vida futura.
Mas deixemos Allan Kardec explicar:
"A possibilidade de nos pormos em comunicação com os Espíritos é uma dulcíssima consolação, pois que nos proporciona meio de conversarmos com os nossos parentes e amigos, que deixaram antes de nós a Terra. Pela evocação, aproximamo-los de nós, eles vêm colocar-se ao nosso lado, nos ouvem e respondem. Cessa assim, por bem dizer, toda separação entre eles e nós. Auxiliam-nos com seus conselhos, testemunham-nos o afeto que nos guardam e a alegria que experimentam por nos lembrarmos deles. Para nós, grande satisfação é sabê-los ditosos, informar-nos, por seu intermédio, dos pormenores da nova existência a que passaram e adquirir a certeza de que um dia nos iremos a eles juntar." 

3. Aspecto desobsessivo 
Vamos dividir esta última etapa em duas: sobre como afastar os maus espíritos e sobre a obsessão propriamente dita.

3.1. Sobre como afastar os maus espíritos 
Na revista espírita de setembro de 1859 temos o artigo com o título: Processos para afastar os maus espíritos. Nesse artigo, Allan Kardec apresenta as formas que estavam sendo empregadas para afastar os maus espíritos, demonstrando o quão inúteis eram. Desta forma, ele vai desenvolvendo uma tese de quais as maneiras mais eficazes para o intento.
Entre elas está a evocação direta dos Espíritos, mas para que a linha de raciocínio de Allan Kardec fique clara, vamos segui-la em seus principais pontos.
Ele afirma que o mundo espiritual "exerce sobre nós, malgrado nosso, uma influência permanente."
"Uns nos impelem para o bem, outros para o mal"
Os Espíritos agem sempre, envolvendo-nos com seus pensamentos desde sempre, pois "não esperaram que houvesse médiuns escreventes para agir; a prova disso é que, em todos os tempos, os homens cometeram inconseqüências."
Para Allan Kardec, a mediunidade não atrai Espíritos maus. Psicografar, escrever o que ditam os Espíritos, não gera a obsessão, "esta faculdade é um meio de conhecer aquela influência; de saber quais são os que vagueiam em redor de nós, que se ligam a nós."
"Pensar que nos podemos subtrair a isto, abstendo-nos de escrever, é fazer como as crianças que fechando os olhos pensam escapar a um perigo. Ao nos revelar aqueles que temos por companheiros, como amigos ou inimigos, a escrita nos oferece, por isso mesmo, uma arma para os combater."
É claro que sempre há os que temem a mediunidade, mas "em falta da visão para reconhecer os Espíritos, temos as comunicações escritas, pelas quais eles mostram o que são. Isto para nós é um Sentido que nos permite julgá-los. Repelir esse sentido é comprazer-se em ficar cego e exposto ao engano sem controle."
Ao analisar as mensagens pode-se perceber quando há a influência dos maus Espíritos.
"Os maus Espíritos aparecem onde alguma coisa os atrai."
A simpatia com o meio é que permite a presença dos maus. Se não simpatia, "pelo menos, lados fracos que esperam aproveitar".
"Entre as causas que os atraem devemos colocar, em primeiro lugar, as imperfeições morais de toda espécie, porque o mal sempre simpatiza com o mal; em segundo lugar, a demasiada confiança com que são acolhidas as suas palavras."
Temos, desta maneira, duas formas de atrair Espíritos maus:
1º as imperfeições morais,
2º a ingenuidade.
As imperfeições morais geram a simpatia. A ingenuidade faz com que aconteça o que é muito comum no mundo: pessoas boas sendo enganadas por malandros.
Diante dessas duas portas para os maus Espíritos, temos duas possibilidades. Primeiro o aspecto moral, segundo o aspecto metodológico.
Em relação à moral o ideal é melhorá-la. É avançar moralmente. Quebra-se, assim, os vínculos de simpatia.
Restando a ingenuidade, o excesso de credulidade, temos o aspecto metodológico. Citaremos Allan Kardec para a devida explicação e fechamento esse sub-item:
"Há pessoas que têm por princípio jamais fazer evocações e esperar a primeira comunicação espontânea saída do lápis do médium. Ora, se nos recordamos daquilo que ficou dito sobre a massa muito variada dos Espíritos que nos cercam, compreendemos sem dificuldade que isso é colocar-se à disposição do primeiro que vier, bom ou mau. E como nesta multidão os maus predominam em número sobre os bons, há mais oportunidade para os maus. É exatamente como se abríssemos a porta a todos os que passam pela rua, ao passo que pela evocação fazemos a escolha e, cercando-nos de bons Espíritos, impomos silêncio aos maus, que poderão, apesar disto, procurar por vezes insinuar-se. Os bons chegam mesmo a permiti-lo a fim de exercitar a nossa sagacidade em reconhecê-los. Neste caso sua influência será nula.
As comunicações espontâneas têm uma grande utilidade quando temos a certeza da qualidade dos nossos acompanhantes. Então freqüentemente nos devemos felicitar pela iniciativa deixada aos Espíritos. O inconveniente está apenas no sistema absoluto, que consiste em nos abstermos do apelo direto e das perguntas."

3.2. Sobre a obsessão propriamente dita 
Segundo allan Kardec, a obsessão se dá quando um Espírito desencarnado persegue uma alma encarnada.
A desobsessão nada mais é que uma terapia visando livrar-se dessa perseguição.
Os passos dessa terapia são os seguintes:
a) passes magnéticos,
b) evocações particulares do espírito perseguidor,
c) vontade do obsidiado de melhorar sua situação,
d) preces.
Retiramos esses passos de dois textos (na realidade um texto publicado em dois momentos) presentes em "O Evangelho Segundo o Espiritismo" e no "A Gênese: Milagres e predições Segundo o Espiritismo": 
"Nos casos de obsessão grave, o obsidiado se acha como que envolvido e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É desse fluido que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluido mau não pode ser eliminado por outro fluido mau. Mediante ação idêntica à do médium curador nos casos de enfermidade, cumpre se elimine o fluido mau com o auxílio de um fluido melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um reativo. Esta a ação mecânica, mas que não basta; necessário, sobretudo, é que se atue sobre o ser inteligente, ao qual importa se possa falar com autoridade, que só existe onde há superioridade moral. Quanto maior for esta, tanto maior será igualmente a autoridade.
E não é tudo: para garantir-se a libertação, cumpre induzir o Espírito perverso a renunciar aos seus maus desígnios; fazer que nele despontem o arrependimento e o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações particulares, objetivando a sua educação moral. Pode-se então lograr a dupla satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito. A tarefa se apresenta mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação, presta o concurso da sua vontade e da sua prece. O mesmo não se dá, quando, seduzido pelo Espírito embusteiro, ele se ilude no tocante às qualidades daquele que o domina e se compraz no erro em que este último o lança, visto que, então, longe de secundar, repele toda assistência. É o caso da fascinação, infinitamente mais rebelde do que a mais violenta subjugação. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII.)
Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar de quem haja de atuar sobre o Espírito obsessor.”
Com esta breve apresentação, acredito ter colaborado na apreciação da temática “evocação de Espíritos, ao longo da obra kardequiana.
 

 


É útil a evocação?

 

 

Assim nos perguntou um dos nossos leitores. Importa, contudo, antes de respondermos negativa ou positivamente, conceituarmos o que significa, para a Doutrina Espírita, o ato da evocação.

 

Ensina Allan Kardec:

 

  • "[...] Invoca-se Deus pela prece. [...] Toda prece é uma invocação. A invocação está no pensamento; a evocação é um ato. Na invocação, o ser ao qual nos dirigimos nos ouve; na evocação, ele sai do lugar em que estava para vir a nós e manifestar sua presença. A invocação é dirigida somente aos seres que supomos muito elevados para nos assistirem. Evocam-se tanto Espíritos inferiores quanto os superiores.”[1]

 

Dessa forma, Kardec anota que invocar e evocar não são sinônimos perfeitos. Ao contrário, apresentam particularidades que lhes são próprias. As circunstâncias são as mestras em determinar a necessidade de um ou de outro procedimento.

 

Convém também aduzir que a obra “Instruções Práticas” fora amplamente revisada, fazendo vir à luz, algum tempo mais tarde, a primeira edição de “O Livro dos Médiuns.

 

É útil questionar uma coisa apenas: essa distinção entre “evocação” e “invocação” prevaleceu na obra que fundamenta a metodologia espírita, lançada no ano de 1861?

 

Já em 1864, quando o Codificador do Espiritismo lança o livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, o termo invocação é usado no sentido que lhe foi sugerido na obra “Instruções”. Assim aprendemos com a obra que sintetiza a moral espírita cristã:

 

  • “[...] A prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o ser a que nos dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor. Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução dos seus desígnios; as que são dirigidas aos Bons Espíritos vão também para Deus. Quando oramos para outros seres, e não para Deus, aqueles nos servem apenas de intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem a vontade de Deus.”[2]

 

A invocação consiste, por isso mesmo, em uma espécie de relação mental com o que nos dirigimos. A evocação possibilita a atração do Espírito a quem desejamos falar, tanto quanto sua conseqüente manifestação através da mediunidade.

 

Ainda esclarece o inolvidável Allan Kardec:

 

  • “[...]Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som.[3] [...]Pela prece, o homem atrai o concurso dos Bons Espíritos, que o vêm sustentar nas suas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos. Ele adquire assim a força moral necessária para vencer as dificuldades e voltar ao caminho reto, quando dele se afastou; e assim também podem desviar de si os males que atrairia pelas suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, sente a sua saúde arruinada pelos excessos que cometeu, e arrasta, até o fim dos seus dias, uma vida de sofrimento. Tem o direito de queixar-se, se não conseguir a cura? Não, porque poderia encontrar na prece a força para resistir às tentações.”[4]

 

Sobre as evocações, temos outras observações importantes a fazer. Há fatores que devem ser levados em conta para o sucesso das evocações, a saber: a condição moral da pessoa ou do grupo que evoca os Espíritos, o meio onde a evocação é procedida e por fim a finalidade da evocação. Seriedade, fervor e simplicidade são fundamentais para prática das evocações espíritas.

Um dos escolhos dessa prática, como de todas as outras práticas relacionadas ao exercício mediúnico, reside na mistificação e no engodo de Espíritos pouco sérios e, algumas vezes, hipócritas e mentirosos. Esses desejam que seus sistemas e suas idéias sejam aceitos de qualquer maneira, e por isso temem um exame minuncioso das suas informações. Para todos os casos, o conselho preventivo será sempre o mesmo: aplicar-se com severidade os critérios doutrinários já fixados nas obras de Allan Kardec.

 

Assim aprendemos em O Livro dos Médiuns:

  • “[...] Quando se quer comunicar com um espírito determinado, é absolutamente necessário evocá-lo. [...] Quando dizemos que se faça a evocação em nome de Deus entendemos que esta recomendação deve ser tomada a sério e não levianamente. Os que pensarem que se trata de uma fórmula sem conseqüência farão melhor se desistirem de evocar. [...] Podemos evocar todos os espíritos, seja qual for o grau da escala a que pertençam: os bons e os maus, os que deixaram recentemente a vida e os que viveram nas épocas mais distantes, os homens ilustres e os mais obscuros, os nossos parentes, os nossos amigos e os que foram indiferentes. Mas isto não quer dizer que eles sempre queiram ou possam atender ao nosso apelo. Independente da sua própria vontade ou de não terem a permissão de um poder superior, eles podem estar impedidos por motivos que nem sempre podemos conhecer. [...] Em resumo o que acabamos de expor resulta: que a faculdade de evocar todo e qualquer espírito não implica para o espírito a obrigação de estar às nossas ordens; que ele pode atender-nos numa ocasião e noutra não, com um médium ou outro evocador que o agrade e não com outro; quer dizer o que quiser, sem poder ser constrangido a dizer o que não quer; retirar-se quando lhe convém; enfim, que em virtude de sua própria vontade ou não, após haver sido assíduo durante algum tempo, pode subitamente deixar de manifestar-se.”[5]

 

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