
![]() © Roger Branch / iStockphoto As pessoas se sentem satisfeitas em uma religião pela proximidade de Deus ou do grupo de amigos? |
Embora já se conheça a relação positiva entre a religiosidade e a satisfação na vida, um novo estudo publicado na edição de dezembro do American Sociological Review revela o “ingrediente secreto” das religiões que torna as pessoas mais felizes.
“Nosso estudo oferece evidências de que são os aspectos sociais da religião e não a teologia ou a espiritualidade que levam à satisfação”, disse Chaeyoon Lim, professor assistente de Sociologia da Universidade de Wisconsin-Madison e que conduziu o estudo. “Em particular, descobrimos que as amizades construídas nas congregações religiosas são o ingrediente secreto da religião que torna as pessoas mais felizes.”
Chaeyoon Lim e Robert D. Putnam, esse último professor de Políticas Públicas de Harvard, extraíram dados de uma amostra representativa de adultos norte-americanos nos anos de 2006 e 2007. De acordo com o estudo, 33% das pessoas que freqüentam alguma atividade religiosa semanalmente têm entre três e cinco amigos próximos na própria congregação e relataram ser extremamente satisfeitas com suas vidas. “Extremamente satisfeito” é definido como 10 em uma escala que vai do 1 ao 10.
Em comparação, apenas 19% das pessoas que freqüentam alguma atividade religiosa pelo menos uma vez por semana, mas que não possuem amigos próximos na congregação relataram ser extremamente satisfeitas. Por outro lado, 23% das pessoas que freqüentam a igreja apenas algumas vezes por ano, mas que têm entre três e cinco amigos próximos na congregação disseram se sentir extremamente satisfeitas com a própria vida. Por fim, 19% das pessoas que nunca freqüentaram uma comunidade religiosa e portanto não possuem amigos na congregação disseram estar extremamente satisfeitas com a própria vida.
De acordo com os autores do estudo, as pessoas gostam de sentir que pertencem a uma comunidade. Uma das funções mais importantes da religião é dar às pessoas a sensação de pertencimento, ou seja, de que elas fazem parte de uma comunidade baseada na religião e na fé. Os amigos são o que torna tangível essa comunidade.
Religião é um fenômeno antropológico, psicológico e social através do qual os seres humanos estabelecem suas relações com o que eles consideram sagrado, espiritual ou divino. O filósofo Emile Durkheim definiu religião como um sistema unificado de crenças e práticas relativo às coisas sagradas, isto é, coisas separadas e proibidas. Para a psicologia, ela é uma projeção dos desejos humanos, enquanto a sociologia a vê como um meio de controle social baseado nos medos instintivos dos homens. O antropólogo norte-americano Clifford Geertz definiu religião como um sistema de símbolos que age para estabelecer modos e motivações poderosos, permeáveis e duradouros nos seres humanos, através da formulação de concepções de uma ordem geral da existência e de dar a essas concepções uma aura tal de concretude a ponto de esses modos e motivações parecerem realistas. A devoção é um dos mais básicos elementos da religião, sendo que conduta s morais, fé, participação nas instituições religiosas, escrituras sagradas, profetas e sábios iluminados pela graça divina são os principais elementos comuns a maioria das religiões.
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Toda religião no mundo tem sua própria versão sobre as origens da vida e da matéria. Nas religiões de Abraão - em que se incluem o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo -essas explicações têm como premissa básica que Deus criou o universo e tudo o que está nele. Esse é o dogma básico do criacionismo no Ocidente.
Nos Estados Unidos, o debate público entre o criacionismo e o evolucionismo, que se julgava encerrado, está de volta. A maioria das pessoas vê o evolucionismo e a teoria da seleção natural como princípios científicos. Agora, muitos dos que sustentam o criacionismo querem que sua visão seja aceita como uma teoria científica chamada ciência da criação.
Criacionismo no BrasilA Sociedade Criacionista Brasileira estabeleceu-se em 1972, em Brasília.
![]() Foto cortesia NARA |
Criacionismo é um termo que incorpora todas as crenças de que as origens do universo e da vida são atribuíveis ao sobrenatural e a meios milagrosos.
No Cristianismo, o Criacionismo diz que Deus (a divindade cristã) criou o mundo e tudo o que há nele, a partir do nada. Os criacionistas acreditam que a explicação do início do mundo dada no Gênesis, o primeiro volume do Velho Testamento, é a verdadeira explicação das origens de tudo o que vemos em nosso redor. A abertura de Gênesis diz:
A criação do Universo e tudo o que há nele levou seis dias. No primeiro dia, Deus criou a luz e a escuridão. No segundo, Ele criou os céus e no terceiro, a terra seca e a vegetação. Deus criou o Sol e a Lua no quarto dia; peixes e pássaros no quinto dia e os animais terrestres e os seres humanos, no sexto dia.
| Teoria do Plano InteligenteA Teoria do Plano Inteligente (IDT) é a forma de criacionismo mais nova no Brasil, mais sofisticada e menos marcadamente religiosa que agora se importa dos Estados Unidos. |
A explicação da criação no Gênesis é a base para todo o criacionismo cristão, ao passo que há, na verdade, muitos tipos diferentes de criacionistas dentro do Cristianismo. Um criacionista da terra plana, por exemplo, acredita não somente que Deus criou o mundo a partir do nada, mas também que a Terra é plana, imóvel e tem somente cerca de 6 mil anos. Um criacionista moderno, por sua vez, aceita as visões da astronomia moderna e os métodos de datar geologicamente que determinam que a Terra tem bilhões de anos, mas não aceita as descobertas da biologia moderna: ele acredita que as espécies só podem evoluir com a permissão de Deus.
| ABCPA ABCP, Associação Brasileira de Pesquisa da Criação, foi fundada em Belo Horizonte, em 1979. |
Podemos colocar os melhores tipos de criacionismo numa lista, desde o que tem a interpretação mais literal, como o Criacionismo da Terra Plana, até o que tem a menos literal interpretação da Bíblia.
Nas seções seguintes, explicaremos cada uma dessas variedades do Criacionismo e saberemos no que seus devotos acreditam.
Na ponta estritamente literal do espectro, os criacionistas da terra plana e os geocentristas modernos rejeitam praticamente toda a ciência moderna. Além da leitura de Gênesis como a explicação factual das origens do mundo, os criacionistas da terra plana e os geocentristas também guardam um pouco dos conceitos anciãos hebraicos a respeito da estrutura da Terra e do sistema solar, citando passagens bíblicas como a fonte para suas crenças.
Criacionismo da terra plana
O criacionismo da terra plana diz que a terra é plana, imóvel e o centro do universo, coberta por um céu sólido, em forma de abóbada, provavelmente referindo-se ao segundo dia da criação, quando "fez, pois, Deus o firmamento e separação de águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento.(...) E chamou Deus ao firmamento Céus" (Gênesis, 1:7-1:8). As estrelas, o sol e a lua estariam embutidos nessa rígida abóbada.
![]() Conceito artístico da terra plana, conforme descrita no Criacionismo da terra plana |
Ao abordar o tópico da aparente viagem de Cristóvão Colombo em volta de uma Terra esférica, o estatuto da missão da Sociedade da Terra Plana (site em inglês) diz: "Usando um elaborado conjunto que envolvia centenas de espelhos e alguns sacos de tecido, Cristóvão Colombo conseguiu criar uma ilusão tão convincente que as pessoas acreditaram que ele navegou em volta do planeta inteiro e chegou nas ilhas da Índia Ocidental. Sendo que sabemos que ele não fez isso". Ao ser confrontado com evidências científicas e tecnológicas de uma Terra esférica e de um céu que não é rígido, de forma a permitir a circunavegação global, os humanos andando na lua e fotos do espaço feitas de satélites, Charles Johnson, da Sociedade da Terra Plana, explica, neste flyer da Sociedade da Terra Plana (em inglês):
Geocentrismo moderno
Os geocentristas modernos acreditam que a Terra é esférica, mas rejeitam quase todo o restante que a astronomia moderna diz, vendo a Terra como sendo o centro do universo e imóvel. Segundo os geocentristas, o sol gira ao redor da Terra em períodos de 24 horas e todos os outros planetas giram ao redor do sol. Geocentristas mais objetivos apontam para a teoria da relatividade geral da física para apoiar sua crença na Bíblia, apontando essencialmente que todas as posições são o resultado da estrutura de referência e nenhuma estrutura de referência pode ser contestada. Geocentristas radicais só se referem à Bíblia e rejeitam toda a astronomia moderna, física e cosmologia. Assim como os criacionistas da Terra Plana, muitos geocentristas acreditam que o cé u é uma abóbada sólida que cerca a Terra.
Na próxima seção, veremos o criacionismo da Terra jovem, que aceita a maioria da astronomia moderna, mas rejeita muito da biologia moderna. A criação da Terra jovem é a fonte primária do movimento da "ciência da criação", que pressiona o ensino do criacionismo junto do evolucionismo nas aulas de ciências das escolas públicas dos EUA.
Longa históriaCriacionistas judeus desenham sua visão das origens da vida a partir do mesmo ponto que os criacionistas cristãos: uma leitura literal do livro de Gênesis do Velho Testamento.
Criacionistas islâmicos baseiam sua visão das origens da vida e do universo nos ensinamentos do Corão. A explicação do Corão sobre o início do mundo é bastante parecida com a do Velho Testamento.
Os criacionistas budistas acreditam que a criação do mundo é eternamente cíclica: não há começo nem fim, apenas a contínua dissolução e reformulação da matéria e da vida, despertada por seres espirituais que renascem em cada novo ciclo.
Uma crença criacionista hindu sustenta que o mundo começou quando os deuses sacrificaram o primeiro homem, que era, ele mesmo, o universo completo. Quando ele morreu, diferentes pedaços de seu corpo tornaram-se o céu, a terra, os mares e todos os componentes humanos do sistema hindu.
O que importa se os objetivos da ciência contradizem as visões religiosas das origens da vida? Na maioria dos casos, não importa. Uma pessoa pode basear seu entendimento da origem da vida nos ensinamentos da Bíblia, ao passo que outra pode basear seu entendimento da origem da vida nos ensinamentos da ciência. Cada um é uma simples moldura de compreensão do que vemos no mundo, mas o movimento nos Estados Unidos para ensinar o criacionismo nas aulas de ciências das escolas públicas (em que os alunos aprendem sobre a moldura científica) torna essa contradição relevante, porque as teorias desenvolvidas pelos métodos científicos desprezam os argumentos estabelecidos no que está sendo conhecido como a "ciência da criação".
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Design Inteligente O movimento design inteligente (DI) diz que a vida como nós a conhecemos tem se desenvolvido por meio de processos aleatórios naturais, que apenas a direção de um poder inteligente pode explicar a complexidade e a diversidade que vemos atualmente. Diferente do criacionismo, o DI não diz que Deus é essa inteligência. A inteligência no DI poderia ser Deus, mas também poderia ser uma raça extraterrestre ou outra força sobrenatural. Além disso, o DI não desenha seus argumentos diretamente a partir da Bíblia cristã. De qualquer forma, o movimento do design inteligente caminha em problemas parecidos com os da "ciência da criação" quando precisa provar suas teorias cientificamente.
Para saber mais sobre o movimento DI consulte Como funciona o design inteligente. |
Isso suscita uma pergunta: O que torna uma teoria "científica"?
Segundo Jose Wudka, professor de física da University of California Riverside, o método científico funciona da seguinte maneira:
Quando a consistência é obtida, a hipótese torna-se uma teoria e fornece um coerente conjunto de proposições que explicam um fenômeno. Uma teoria é, então, uma moldura dentro da qual as observações são explicadas e as predições feitas.
A moldura científica se baseia em observação e "falsificação": na ciência, falsificação é a possibilidade de observar algo que provaria que uma teoria seria falsa. Por exemplo: o enunciado; as plantas só sobrevivem se tiverem acesso à luz do sol é falsificação, porque alguém pode observar uma planta sobrevivendo na escuridão total e provar que esse enunciado é falso. O enunciado Deus criou plantas para exigir a luz do sol não é falsificação, porque não existe a possibilidade de alguém fazer uma observação provando que isso não é verdade.
A evidência científica, ou seja, a evidência obtida usando a moldura científica, a favor da teoria da evolução e da "terra antiga", inclui:
Segundo a comunidade científica, não há evidências específicas a favor do criacionismo. Há um registro bíblico e buracos na teoria da evolução. De qualquer forma, os cientistas observam que os buracos na teoria da evolução apresentam evidências negativas e positivas: os buracos não são provas de alguma teoria. Não há nada a ser testado lá na "ciência da criação": é impossível provar ou refutar a presença de Deus ou de ocorrências milagrosas usando métodos científicos. A maioria dos cientistas acredita que isso faz do Criacionismo uma teoria metafísica ou filosófica, e não científica.